Rituais e Celebrações
A cena está se tornando cada vez mais comum: um grupo se reúne, geralmente em noites de luar, em meio a uma floresta ou em uma colina isolada. Às vezes trajando túnicas e máscaras, outras inteiramente nus, os participantes iniciam uma cerimônia com cantos e danças, um ritual que certamente pareceria esquisito e misterioso para um observador casual, embora seja um comportamento indiscutivelmente religioso. Assim os bruxos praticam sua fé.
Como os adeptos de religiões mais convencionais, os iniciados em feitiçaria, ou Wicca, usam rituais para vincular-se espiritualmente entre si e a suas divindades. Os ritos da Wicca diferem de uma seita para outra. Vários rituais da Comunidade do Espirito da Terra, uma vasta rede de feiticeiros e pagãos da região de Boston, nos Estados Unidos, estão representados nas próximas páginas. Algumas cerimônias são periódicas, marcando as fases da lua ou a mudança de estações. Outras, tais como a iniciação, casamentos ou pactos, só ocorrem quando há necessidade.
E há também aquelas cerimônias que, como a consagração do vinho com um athame, a faca ritualística, fazem parte de todos os encontros. Seja qual for seu propósito, a maioria dos rituais Wicca - especialmente quando celebrados nos locais eleitos eternamente pelos bruxos - evoca um estado de espírito onírico que atravessa os tempos, remontando a uma era mais romãntica.
Elevar o Cone do Poder
"A magia", diz o sumo sacerdote Arthen, "está se unindo às forças psíquicas para promover mudanças." Parte do treinamento de um feiticeiro, ele observa, é aprender a usar a energia psíquica e uma técnica primária com esse objetivo, um ritual praticado em quase todos os encontros é o de elevação do cone do poder. Como a maioria das atividades, isso acontece no centro de um circulo mágico. "Especialmente no caso deste ritual", diz Arthen, "o circulo mágico é visualizado não apenas como um circulo, mas como um domo, uma bolha de energia psiquica - uma maneira de conter o poder antes de começar a usá-Ia."
Ao tentar gerar energia para formar o cone do poder, os bruxos recorrem à dança, à meditação e aos cànticos. Para "moldar" o poder que afirmam produzir, reúnem-se em torno do circulo mágico, estiram os braços em direção à terra e gradualmente os levantam em direção a um ponto focal acima do centro do circulo. Quando o lider da assembléia sente que a energia atingiu seu ápice, ordena aos membros: "Enviem-na agora!" Então, todos visualizam aquela energia assumindo a forma de um cone que deixa o círculo e viaja até um destino previamente determinado.
O alvo do cone pode ser alguém doente ou outro membro do grupo que necessite de assistência em seu trabalho mágico. Mas seu destino também pode estar menos delimitado. Como a prática da feitiçaria está profundamente vinculada à natureza, o cone do poder pode ser enviado, diz Arthen, "para ajudar a superar as crises ambientais que atravessamos".
Capturar a Energia da Lua
Os praticantes da Wicca identificam a lua, eternamente mutante - crescente, cheia e minguante - , com sua grande deusa em suas diversas facetas: donzela, mãe e velha. E por isso que a cerimônia destinada a canalizar para a terra os poderes mágicos da lua está na essência do culto à deusa, sendo um rito chave na liturgia da Wicca.
Quando se encontram para um dos doze ou treze esbás do ano, que são as celebraçôes da lua cheia, os membros da Fraternidade de Athanor reúnem-se em um circulo mágico para direcionar suas energias psíquicas através de seu sumo sacerdote e para sua suma sacerdotisa. Acreditam que a concentração de energia ajudará a sacerdotisa a "atrair a lua para dentro de si" e transformar-se em uma corporificação da deusa. "Geralmente, a época da lua cheia é sempre repleta de muita tensão psiquica", explica Arthen, o sumo sacerdote.
Esse ritual tenta utilizar essa tensão. "Ele ajuda a sacerdotisa a entrar em um transe profundo, no qual terá visões ou dirá palavras que geralmente são relevantes para as pessoas da assembléia". As taças nas mãos da sacerdotisa contêm água, o elemento que simboliza a lua e é governado por ela. Os membros dizem que essa água se torna "psiquicamente energizada" com o poder que a trespassa. Cada feiticeiro deve beber um pouco dela ao término do ritual, na cerimônia que o sumo sacerdote Arthen chama de sacramento.
Muitos grupos realizam essa cerimônia de atrair a lua em outras fases, além da lua cheia. Tentam conectar o poder da lua crescente para promover o crescimento pessoal e começo de novas empreitadas e conectam com a minguante, ou lua negra, para selar os finais de coisas que devem ter um fim. A maioria dos grupos considera a cerimõnia como uma maneira de honrar a Grande Deusa, mas muitos abdicam dos rituais, resumindo-se simplesmente a deter-se por um momento quando a lua está cheia, para meditar sobre a divindade Wicca.
Celebração das Passagens da Vida
Como outros grupos religiosos, as comunidades Wicca celebram os momentos mais significativos na vida individual e familiar, inclusive nascimento, morte, casamento - que chamam de "unir as mãos" - e a escolha do nome das crianças, O Espirito da Terra é reconhecido como igreja pelo estado de Massachusetts, diz Arthen, e portanto seu ritual de "unir as mãos" pode configurar um matrimônio legal.
Muitas vezes o ritual não é usado para estabelecer um casamento legal, mas sim um vinculo reconhecido apenas pelos praticantes da Wicca, Se um casal que se uniu dessa forma decidir se separar, seu vinculo será desfeito através de outra cerimônia Wicca, conhecida como "desunião das mãos".
Fundamental para essa cerimônia é a bênção dada à união do casal e o ritual de atar suas mãos - o passo que corresponde ao nome do ritual e que há muito tempo produziu a famosa metáfora que se tornou sinônimo de casamento, "amarrar-se", a fita colorida que une o par é feita por eles, com três fios de fibra ou couro representando a noiva, o noivo e seu relacionamento.
Durante as semanas ou até meses que antecedem o casamento, o casal deve sentar-se regularmente talvez a cada lua nova - para trançar um pedaço dessa corda e conversar sobre o enlace de suas vidas através de amor, trabalho, amizade, sexo e filhos. Os filhos de feiticeiros são apresentados ao grupo durante um ritual de escolha de nome chamado "a bênção da criança", ou batismo.
Essa cerimônia inclui com freqüência o plantio de uma árvore, que pode ser fertilizada com a placenta ou com o cordão umbilical. Em uma cerimônia semelhante conhecida como batismo mágico, que geralmente ocorre antes da
iniciação, o aprendiz de feiticeiro declara os nomes pelos quais deseja ser conhecido dentro de seu grupo de magia.
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